Olá, meu nome é Megan. O que irei relatar é uma série de acontecimentos que mudaram minha vida, destruindo totalmente minha infância
Eu fui criada em um rancho isolado, onde a paz da natureza era interrompida apenas pelo sussurro do vento e o rugido distante dos animais. Meu pai, decidido a me proteger do caos urbano, optou por essa vida tranquila entre campos verdejantes e céus estrelados. Porém, nem tudo era serenidade.
Desde a infância, ajudei nas tarefas diárias: regar a horta com minha avó e alimentar os animais com meu avô. Os porcos me causavam arrepios, mas eu os observava à distância, cautelosa. O rancho era um paraíso, com árvores frutíferas e um riacho sereno, onde uma ponte de madeira servia de observatório para as águas em movimento.
Mas havia mistérios, sombras escondidas sob a beleza aparente. Meus avós mantinham costumes estranhos: cobriam os espelhos ao anoitecer e proibiam-me de brincar fora de casa após o pôr do sol. Na época, pareciam meras excentricidades, ao meu ver era o tipo de coisa que os adultos faziam para irritar as crianças. Até que as regras foram ditadas:
- Nunca descubra os espelhos à noite. Se acidentalmente descobrir, em hipótese alguma encare seu reflexo.
- Ao deitar-se, mesmo que esteja sem sono, finja estar dormindo. Não importa o que aconteça, não abra os olhos. Há coisas na escuridão que não querem ser vistas
- Não aceite os convites das crianças para brincar do lado de fora. Lembre-se, Megan, nós não temos vizinhos.
- Se esquecer algo do outro lado do riacho, deixe-o lá. O que quer que seja, não lhe pertence mais e não estará lá quando voltar.
- Não responda quando chamarem seu nome, mesmo que pareça familiar.
Eram regras confusas para uma criança, nada parecia fazer sentido. Quando eu tinha sete anos, um pesadelo despertou-me em desespero, assustada chamei pelo meu pai, mas o silêncio da noite foi minha única resposta. Comecei chorar.
Lembrei da paz que sentia ao olhar para as vacas, então abri as cortinas e as olhei pela janela, elas estavam todas voltadas para a casa, senti como se olhassem diretamente para mim. Seus olhos brilhavam refletindo a luz da lua de forma perturbadora. Era como estar em transe, mas algo me despertou ...
"Megan?"
Uma voz
"Megan!!"
Um chamado
Mas dessa vez em tom de choro. Relutante, segui-a até o banheiro, de onde parecia emanar, mas não havia ninguém lá. Um frio gélido percorreu minha espinha quando percebi que a voz estava vindo do espelho, eu podia ouvir uma respiração ofegante.
Lentamente me aproximei
"MEGAN!"
A voz gritou
Em meio ao desespero, puxei o pano que cobra o espelho, um amargo erro... Vi pelo reflexo uma mulher correr em direção à porta. Ouvi o som de seus passos pela casa antes que a porta se fechasse com estrondo. Em seguida ouvi gritos lá fora.
Comecei chorar. A porta se abriu, era meu pai. Me abraçou dizendo que tudo ficaria bem
Ele havia sido forte durante todos esses anos seguindo as regras. Mas ele não foi forte quando minha mãe morta começou a gritar aterrorizadamente lá fora...
Ele abriu a porta...
Ele saiu...
Ouvi seus gritos indiscerníveis se unirem.
Aquela foi a última vez em que vi meu pai
Meu vô disse que ele foi vítima das crianças do escuro. Tentei culpar meus avós, mas sabia que a culpa não era deles... Ninguém podia fazer nada.
Hoje eu temo a noite, e temo o luar, porque sei dos horrores que a lua traz consigo.

